O quê?
É bem provável que você já saiba que Elena Ferrante não é o nome de uma escritora de carne e osso. Trata-se de um nome inventado, ou melhor, de uma personagem de autora, criada como uma espécie de reconstrução ficcional de sua criadora, uma outra de si mesma que escreve textos autobiográficos em ensaios e, por sua vez, cria outras de si mesma nos romances. São protagonistas que narram a própria história, tornando-se, também elas, personagens de si mesmas, em “livros dentro de livros” (lembrou das matrioshkas russas?).
Esses “outros eus” compartilham muitos aspectos biográficos com Elena Ferrante, figura de autora que só existe no papel, a exemplo dos heterônimos de Fernando Pessoa – a diferença é que a autora italiana se move por aí de forma independente, sem vínculos com um criador.
Nesse curso, vamos refletir sobre esse processo de desdobramento de uma autora em outras, cuja ápice se estabelece na quadrilogia napolitana, verdadeiro marco da literatura italiana do século XXI que fez nascer o fenômeno “Ferrante fever”, termo criado para nomear a comoção de leitores iniciada logo após a publicação dos romances da série nos Estados Unidos, em 2012.
Elena Greco, a protagonista (quase) homônima à sua autora, é uma escritora que, às voltas com o desaparecimento da amiga Rafaella Cerullo, a Lila, decide contar a sua história em um grande romance de formação. A obra nasce como uma espécie de acerto de contas com a amiga, com a qual estabelece, desde pequena, uma relação movida por sentimentos ambíguos: admiração e inveja, amor e ódio. Qual delas, afinal, seria a “amiga genial”?
Assim como Elena Greco narra, ainda que de forma tortuosa, a própria trajetória como escritora no romance que está escrevendo, Elena Ferrante cria uma espécie de autobiografia literária em três obras ensaísticas: Frantumaglia – os caminhos de uma escritora (conjunto de cartas, entrevistas e outros textos ensaísticos escritos entre 1991 e 2016), L’invenzione occasionale (coletânea de 51 textos publicados semanalmente no jornal The Guardian em 2018) e As margens e o ditado (que reúne quatro ensaios, publicado em janeiro de 2023 no Brasil). O curso se propõe a refletir sobre esses textos ensaísticos, em intertextualidade com os romances, evidenciando de que modo eles borram as fronteiras entre ficção e realidade, ficção e ensaio, narrativa e não-narrativa, em um transbordamento de discussões sobre a escrita literária absolutamente inovador.
Passo por passo
- Interessa saber quem está por trás do nome Elena Ferrante? Até o vampiro de Curitiba (que, como Ferrante, zela por sua ausência como autor empírico) entra nessa discussão sobre autoria.
- Mas, afinal, Elena Ferrante é mesmo um pseudônimo de uma escritora que prefere não assinar com o seu próprio nome? Outros jeitos de compreender esta escritora “feita apenas de escrita”.
- Uma visita à biblioteca de Ferrante, que em seus ensaios comenta sobre os livros que acompanham a sua escrita – você certamente vai querer incluí-los em sua lista de leituras.
- Os ensaios e os romances como um grande projeto ficcional, com estratégias emprestadas da autoficção. Mas, afinal, uma autora sem rosto, sobre a qual nada sabemos, pode escrever autoficção?
- A metaliteratura nos ensaios e a autorreflexão nos romances: diálogos possíveis. Os ensaios como uma espécie de laboratório de crítica literária que alimenta a ficção.
- Uma escrita que se “desmargina”, que pendula entre a escrita realista, fluida, obediente às convenções, e a escrita disruptiva, a experimentação radical (possibilitada pela própria ausência como autora empírica).
Pra quem?
Para quem já é um “ferranter” de carteirinha, mas também para quem deseja estabelecer os primeiros contatos com o universo ficcional da escritora italiana.
Ou seja, para toda e qualquer pessoa que queira se aprofundar no debate de questões que atormentam tanto os leitores, como a identidade dessa autora misteriosa, quanto a própria Ferrante, que em seus ensaios, e mesmo nos romances, investiga os meandros da própria escrita ficcional.
O que
vamos ler?
Não se preocupe, tá bem? Os livros e textos abordados serão disponibilizados em uma ementa completa no início do curso apenas para quem se matriculou.
A professora disponibilizará os pdfs das leituras solicitadas.
Professora
Julie Fank é doutora em Escrita Criativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), nasceu em 1988, em Cascavel (PR). É artista visual, escritora, professora e diretora e criadora da Esc. Escola de Escrita, em Curitiba (PR). Formada em Letras Português-Inglês e mestre em Literatura Comparada pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Tem livros, contos, e poemas publicados em periódicos como Cândido e Arte e Letra: Estórias. Já ministrou cursos e oficinas para mais de quatro mil alunos que passaram pela Esc. ao longo dos últimos anos. Também atua como ghostwriter. Publicou recentemente o livro Dobradiça pela Telaranha Edições.
Quando?
Às quintas-feiras, das 19h às 21h.
AGOSTO: 08, 15, 22 e 29
SETEMBRO: 05, 12, 19 e 26
OUTUBRO: 24 e 31
Onde?
Nosso espaço físico, coisa fina, fica na Praça General Osório, 379, sala 901, no Centro de Curitiba. Essa informação é só para você ficar sabendo mesmo, pois você não vai sair de casa.
O nosso encontro será online. Você pode até ficar de pijama.
Quanto tempo dura?
20 horas divididas em 10 encontros de 2h cada.
Tem certificado?
Simpirilim. O curso te dá um certificado de curso livre validável como horas complementares.
Quanto custa?
O valor do curso é de R$ 1.200 e pode ser pago em até quatro vezes de R$ 300.
Como posso pagar?
O pagamento é exclusivamente via pix.
Na opção a prazo, o valor da primeira parcela corresponde à matrícula e deve ser feito para validar a inscrição.
DO QUE EU PRECISO? Providenciaremos o caderninho. Você traz seu estojo e a vontade de escrever.
PENÚLTIMAS CONSIDERAÇÕES: As vagas para este grupo são limitadas-limitadíssimas, então corre se inscrever.
E COMO FAÇO A MINHA INSCRIÇÃO? Clique AQUI e esc.reva-se.